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domingo, 24 de maio de 2020

Papa: praticar uma teologia do diálogo e do acolhimento

“A misericórdia não é somente uma atitude pastoral, mas é a própria substância do Evangelho de Jesus”

OPapa Francisco advogou hoje por “Faculdades teológicas onde se viva a convivialidade das diferenças, onde se pratique uma teologia do diálogo e do acolhimento”. O Papa assim se expressou em Nápoles, no encontro promovido pela Pontifícia Faculdade Teológica da Itália Meridional.
Foram dois dias de Congresso, que reuniu cerca de mil participantes, sobre o tema “A teologia depois da Veritatis gaudium no contexto do Mediterrâneo”.
O Papa foi o convidado de honra e proferiu o seu discurso no final da manhã desta sexta-feira, no qual agradeceu também ao “querido irmão” Patriarca Bartolomeu, que contribuiu para a reflexão teológica do encontro enviando uma mensagem.
Dois são os movimentos necessários e complementares: o primeiro do baixo em direção ao alto, que pode dialogar com toda instância humana e histórica, levando em consideração toda a grandeza do humano; e o segundo, do alto em direção ao baixo, onde por “alto” se entende Jesus elevado na cruz.
No horizonte, Francisco entrevê a não-violência, para qual a teologia deve olhar como próprio elemento constitutivo.
Diálogo não é uma forma mágica, adverte o Papa, mas pode auxiliar a teologia quando é considerada seriamente, quando é encorajada e favorecida entre docentes e estudantes. De modo especial, o Pontífice considera importante que os estudantes sejam educados ao diálogo com o Hebraísmo e o Islamismo.
“O Mediterrâneo é propriamente o mar da mestiçagem, um mar geograficamente fechado em relação aos oceanos, mas culturalmente sempre aberto ao encontro, ao diálogo e à recíproca inculturação. Com o diálogo sempre se ganha. Todos perdemos com o monólogo.”
O Papa defendeu ainda a prática da teologia de forma interdisciplinar, que os teólogos saibam trabalhar em conjunto, superando o individualismo no trabalho intelectual. E fez uma das declarações mais tocantes do seu discurso.
“Neste caminho contínuo de saída de si e de encontro com o outro, é importante que os teólogos sejam homens e mulheres de compaixão, tocados pela vida oprimida de muitos, das escravidões de hoje, das chagas sociais, das violências, das guerras e das enormes injustiças sofridas por muitos povos que vivem nas margens deste ‘mar comum’. Sem comunhão e sem compaixão, constantemente alimentadas pela oração, a teologia não só perde a alma, mas perde a inteligência e a capacidade de interpretar de maneira cristã a realidade. Só é possível fazer teologia de joelhos.”
Falando especificamente sobre o tema do Congresso, a Veritatis gaudim, o Pontífice recordou que a Constituição apostólica (publicada pelo Papa Francisco em dezembro de 2017) propõe uma teologia em rede e, no contexto do Mediterrâneo, em solidariedade com todos os “náufragos” da história.
O papel da teologia no Mediterrâneo depois deste documento é sintonizar-se com o Espírito de Jesus Ressuscitado, “com a sua liberdade de ir pelo mundo e alcançar as periferias, inclusive as de pensamento”.
“Pode-se e deve-se trabalhar na direção de um ‘Pentecostes teológico’, que permita às mulheres e aos homens do nosso tempo ouvir ‘na própria língua’ uma reflexão cristã que responda à sua busca de sentido e de vida plena. ”
Para isso, apontou Francisco, é preciso partir do Evangelho da misericórdia. A teologia, recordou, nasceu em meio aos seres humanos concretos e, portanto, “fazer teologia é um ato de misericórdia” e os bons teólogos também têm o cheiro das ovelhas.
“A misericórdia não é somente uma atitude pastoral, mas é a própria substância do Evangelho de Jesus.”
Por fim, o Papa encorajou a “liberdade teológica”. “Sem a possibilidade de experimentar novas estradas, não se cria nada de novo e não se deixa espaço à novidade do Espírito do Ressuscitado.”
Francisco então concluiu: “Sonho Faculdades teológicas onde se viva a convivialidade das diferenças, onde se pratique uma teologia do diálogo e do acolhimento”.

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