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domingo, 12 de abril de 2020

CAMINHO O CAMINHO (em MARCOS)

 O CAMINHO (em MARCOS)


Marcos usa “CAMINHO” 14 vezes: duas vezes como anúncio de João Batista: Mc 1,2; 1,3; e mais 12 vezes referindo-se ao próprio caminho de Jesus  2,23;  6,8;  8,3;  8,27; 9, 33;  9, 34; 10,17; 10,32;  10, 46; 10,52;  11, 8; 12,14. Marcos usa esta palavra mais duas vezes na parábola do semeador referindo-se a semente no CAMINHO: Mc 4,4; 4,15.
O CAMINHO pode ser considerado como tudo que se faz para construir o REINO DE DEUS, ou melhor dizendo, tudo que se faz para podermos VIVER EM PAZ UNS COM OS OUTROS (Cf. 9,50c)

VEJA OS TEXTOS em MARCOS

1.         1,2 Como está escrito no profeta Isaías: “Eis que eu envio o meu mensageiro na tua frente, para preparar o teu caminho(o`do.n) (1/14).

2.         1,3 Esta é a voz daquele que grita no deserto: Preparem o caminho (o`do.n)  (2/14) do Senhor, endireitem suas estradas!”

3.         2,23 Num dia de Sábado, Jesus estava passando por uns campos de trigo. Os discípulos iam abrindo caminho (o`do.n) (3/14), e arrancando as espigas.

4.         6,7 Chamou os doze, começou a enviá-los dois a dois e dava-lhes autoridade sobre os espíritos impuros. 8 Recomendou que não levassem nada pelo caminho (o`do.n) (4/14), além de um bastão;     nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura.

5.         8,2     “Tenho compaixão dessa multidão, porque já faz três dias que está comigo e não têm nada para comer. 3 Se eu os mandar para casa sem comer, vão desmaiar pelo caminho (o`dw) (5/14), porque muitos deles vieram de longe.”

6.         8,27 JESUS partiu com seus discípulos para os povoados de Cesareia de Filipe. No caminho (o`dw) (6/14), ele perguntou a seus discípulos: “Quem dizem os homens que sou?”

7.         9,33 Quando chegaram à cidade de Cafarnaum e estavam em casa, perguntou-lhes:  “Sobre o que vocês estavam discutindo no caminho (o`dw) (7/14)?”

8.         9,34 Eles ficaram calados, pois no caminho (o`dw) (8/14) tinham discutido sobre qual deles era o maior.
  
9.         10,17 Quando retomou o caminho (o`do.n) (9/14), um homem foi correndo, ajoelhou-se diante dele e perguntou:  “Bom Mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna?”

10.     10,32  Estavam a caminho (o`dw) (10/14), subindo para Jerusalém.  JESUS ia na frente. Eles estavam espantados, e aqueles que iam atrás estavam com medo. Chamou de novo  os Doze à parte  e começou a dizer-lhes o que estava para acontecer com ele:  33  “Eis que estamos subindo para Jerusalém, e o Filho do Homem vai ser entregue aos Chefes dos Sacerdotes e aos Doutores da Lei. Eles o condenarão à morte e o entregarão aos pagãos.  34 Vão caçoar dele, cuspir nele, vão torturá-lo e matá-lo. E depois de três dias ele ressuscitará.”

11.     10,46 Chegaram a Jericó. Saiu de Jericó, junto com seus discípulos e uma grande multidão. Na beira do caminho (o`do.n) (11/14) havia um cego que se chamava Bartimeu, o filho de Timeu; estava sentado, pedindo esmolas. 47 Quando ouviu falar que era JESUS Nazareno que estava passando,  o cego começou a gritar: “JESUS, filho de Davi, tem piedade de mim!”  48 Muitos o repreendiam  e mandaram que ficasse quieto.  Mas ele gritava mais ainda: “Filho de Davi, tem piedade de mim!”  49 Então JESUS parou e disse:  “Chamem o cego.” Eles chamaram o cego e disseram: “Coragem, levante-se, porque está chamando você.” 50 O cego largou o manto, deu um pulo e foi até JESUS.

12.     10,51 Então JESUS lhe perguntou:  “O que você quer que eu faça por você?”  O cego respondeu: “Mestre, eu quero recuperar a vista.” 52 JESUS disse:  “Vai, a sua fé curou (=salvou) você.” Logo o cego tornou a ver e seguia Jesus pelo caminho (o`dw) (12/14).

13.     11,8 E muitas pessoas estenderam seus mantos pelo caminho (o`do.n) (13/14);   outros puseram ramos que haviam apanhado nos campos.
  
14.     12,13 Então os chefes dos sacerdotes, doutores da lei e anciãos  mandaram alguns dos fariseus e dos herodianos, para apanhá-lo em alguma palavra. 14 Quando chegaram, disseram: “Mestre, sabemos que tu és verdadeiro, porque não dás preferência a ninguém. Com efeito, não levas em conta as parências, e ensinas de verdade o caminho (o`do.n) (14/14) de Deus. Dize-nos:  é lícito ou não pagar tributo a César? Devemos pagar ou não?”
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Desde Lucas 9,51 que Jesus está decididamente A CAMINHO de Jerusalém. E assim continuará até Lucas 19,28. Com este belo recurso à tipologia do CAMINHO (hodós) e do verbo CAMINHAR (poreúomai), Lucas exemplifica e clarifica o modo cristão de viver. Porque todo o CAMINHO abre o mundo ao meio, ao mesmo tempo que vai desenhando e atualizando a nossa vida em duas partes: «para a frente» e «para trás». Note-se que Lucas é, de longe, o Autor do Novo Testamento que mais vezes usa estes vocábulos, sensivelmente 40 em 100 vezes «caminho» (hodós), e 88 em 150 vezes «caminhar» (poreúomai). Num mundo plano como o nosso, o Evangelho de Lucas rasga CAMINHOS e procede a verdadeiras operações de CORAÇÃO aberto. CAMINHO que abre CAMINHOS novos, novas maneiras de viver, com Jesus, que é o CAMINHO, sabe o CAMINHO, mostra o CAMINHO e faz o CAMINHO, a enxertar a plenitude nesta nossa imensa e chata planitude.

Antônio Couto (Mesa da Palavra)

Conhece-se o(a) seguidor(a) de Jesus pelos pés



Pe. Adroaldo Palaoro sj

 “E Ele percorria os povoados da região, ensinando” (Mc 6,6)

“Adeptos(as) do Caminho”: assim eram conhecidos os(as) primeiros seguidores(as) de Jesus (At 9,2). Assim também quer Jesus que sejamos seguidores seus, sempre em caminho, em todos os lugares, em todas as casas de passagem, dispostos a parar e conversar, prontos ao encontro e à solidariedade com todos os que vão e vem pela vida.
Deveríamos voltar a recuperar o sentido desta expressão (“adeptos do Caminho”), pois ela nos convida a continuar percorrendo o caminho cotidiano da existência de uma maneira cristificada; e isto é algo fundamental para o encontro profundo com o outro, com as alegrias e os sofrimentos daqueles que se encontram às margens, com a novidade e a surpresa da senda da vida, com o desafio de prosseguir confiando na Boa Notícia de Jesus, que se manteve sempre em caminho pelas estradas da Palestina, para levantar os feridos, oprimidos e excluídos do sistema social e religioso. 
Hoje como ontem, sair, caminhar, deslocar-se, ser itinerante… tem sentido, porque significa ir ao encontro do novo e do diferente. “Sair” é também uma experiência constitutiva da natureza humana porque tem um ar transformador. Cada um, ao longo do caminho, experimenta “novos modos” de habitar a existência, de olhar-se, pensar e relacionar-se.  A itinerância permite ir mais além de si mesmo para encontrar outras maneiras de viver, para entrar em outras terras prometidas, para aproximar-se de outras pessoas, povos, culturas, onde encontrar o sentido de vida; sobretudo, possibilita ir ao encontro d’Aquele que nos transcende e sempre se revelou Peregrino. 
A vida humana, neste sentido, é caminho, com um ponto de partida, uma meta, um trajeto e um horizonte. Caminho, palavra familiar e também humilde que evoca a existência de uma origem e um destino e, entre ambos, de uma aventura: a aventura de nosso caminhar, feita de desafios e extravios, e também de encontros e de momentos inesquecíveis que nos confortam ao longo do percurso. 
Todos somos “peregrinos” neste “êxodo de nós mesmos para Deus”, no qual nos “adentramos em terra estranha, despojados dos suportes usuais da existência, desprovidos de todo amparo que não seja o da caridade…” (Tellechea Idógoras). 
Quem caminha calcula seu trajeto, suas próprias forças, fadigas, planeja suas paradas. Por outra parte, decide correr o risco de sair de sua zona de conforto, para abrir-se à paisagem de novas relações, ao inesperado e inexplorado, a novos encontros e sensações, a confiar e percorrer a própria existência. O caminho é um processo de mudança pessoal, um lugar pedagógico de cura, de aprendizagens, abertas ao assombro, a um olhar dinamizador, à liberdade de pensamento e de ação. Ele nos move a dilatar o coração e interessar-nos pela situação das demais pessoas, a aproximarmos dos(as) samaritanos(as) que encontramos nas idas e vindas. Porque o caminho é a ocasião, o Kairós, o tempo pedagógico de um movimento que vivifica, deixa pegada e sabor de um outro sentir. 
Podemos dizer que na Igreja são imprescindíveis os itinerantes, os peregrinos do Reino de Deus, como o próprio Jesus, que enviou discípulos e discípulas pelos caminhos e povos, sem nenhuma estrutura de apoio a não ser um coração disposto a não querer outra riqueza a não ser o fermento de nova humanidade. Com os itinerantes Jesus iniciou um movimento a serviço do Reino e Ele mesmo foi um itinerante. Não permaneceu numa casa, não se fechou em um lugar, não fundou uma instituição vinculada a um tipo de templo, sinagoga ou santuário, mas foi percorrendo, com um grupo de discípulos(as)/amigos(as), também itinerantes, os povoados e aldeias da Galileia, anunciando e tornando presente o Reino. Jesus os tirou de seus lugares estáveis, de suas simples redes da margem do mar, e os fez itinerantes através de outros e amplos caminhos e mares, para assim encontrar-se com os caminhantes, os perdidos e expulsos, e iniciar com eles a grande Marcha da Vida. 
Jesus, o Homem dos Caminhos, chama para uma Vida nova. Chama na vida e para a vida e põe as pessoas em movimento, a caminho. A “pegada” que Ele deixa ao passar é sua própria Vida partilhada. Ele é o inspirador de toda itinerância; com sua peregrinação Ele abre possibilidade de outros caminhos.
Jesus, o homem que se definiu, tem um sonho, um projeto (Reino). E surge diante dos outros com força pessoal capaz de sacudi-los e colocá-los em movimento.  Ele “passa” e sua presença os atrai arrancando-os da acomodação. Faz-se do chamado um caminho, quando se partilha a vida com quem chamou. Responder ao chamado feito por Jesus significa tornar esse chamado um caminho de entrega e de serviço.
                                                    
Jesus nos apresenta uma causa muito nobre e, com seu chamado, rompe nosso estreito mundo e desperta em nós ricas possibilidades, reacende o que de mais nobre há em cada um e amplia nosso horizonte de vida. Para isso é preciso sair dos templos que pretendem fechar e aprisionar o Espírito, para dirigir-nos aos caminhos do mundo, para entrar em sintonia com o Coração e o Manancial da Vida, “em espírito e verdade”, tocando a carne concreta da Humanidade e da Mãe Terra. 
“Chamado-resposta” implica, pois, um encontro comprometedor. O modo de ser de Jesus, transparente e livre, ativa nossa vida atrofiada e estreita e nos capacita a olhar amplos horizontes: seu povo, seu mundo dividido e excluído… A ressonância de seu chamado nos predispõe a encontrar motivações saudáveis e maduras que nos permitam peregrinar e viver no contexto atual com amor, entusiasmo e criatividade. Jesus envia seus discípulos com o necessário para caminhar: cajado, sandálias e uma túnica. Não precisam de mais nada para serem testemunhas do essencial. Jesus quer vê-los livres e sem ataduras, sempre disponíveis, sem instalar-se no bem-estar, confiando na força do Evangelho. 
“O discípulo-missionário é um des-centrado: o centro é Jesus Cristo que convoca e envia. O discípulo é enviado para as periferias existenciais. A posição do discípulo-missionário não é a de centro, mas de periferias: vive em tensão para as periferias” (Papa Francisco) 
Quê significa “fronteiras geográficas e existenciais”? É preciso sair dos limites conhecidos; sair de nossas seguranças para adentrar-nos no terreno do incerto; sair dos espaços onde nos sentimos fortes para arriscar-nos a transitar por lugares onde somos frágeis; sair do inquestionável para enfrentarmos o novo… 
É decisivo estar dispostos a abrir espaços em nossa história a novas pessoas e situações, novos encontros, novas experiências… Porque sempre há algo diferente e inesperado que pode nos enriquecer… A vida está cheia de possibilidades e surpresas; inumeráveis caminhos que podemos percorrer; pessoas instigantes que aparecem em nossas vidas; desafios, encontros, aprendizagens, motivos para celebrar, lições que aprenderemos e nos farão um pouco mais lúcidos, mais humanos e mais simples… 
A periferia passa a ser terra privilegiada onde nasce o “novo”, por obra do Espírito. Ali aparece o broto original do “nunca visto”, que em sua pequenez de fermento profético torna-se um desafio ao imobilismo petrificado e um questionamento à ordem estabelecida. 
Texto bíblico:  Mc. 6,7-13  
Na oração:
- Nas nossas vidas acontece algo de verdadeiro e belo quando nos dispomos a buscar dentro de nós mesmos a razão da nossa existência.
- No “mapa espiritual” de nosso interior ainda existe uma “terra desconhecida”, que proporciona interesse à vida, suscita curiosidade, nos põe a caminho…  Grandes surpresas interiores estão à nossa espera, e a capacidade de continuar procurando é que dá sentido ao esforço e vigor à vida.
- A quê você se sente chamado(a)? A quem se sente enviado(a)?

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