Podemos dizer que existe, entre a fé e a teologia, uma relação interna ou orgânica, e não uma relação meramente exterior ou mecânica. Portanto, percebe-se a continuidade vital entre essas duas realidades, e não podemos reduzi-la a uma mera justaposição.
Poderíamos aqui usar muitas metáforas. Assim, a fé é para a teologia:
- como a seiva para a árvore;
- como a fonte para o rio;
- como o fermento para o pão;
- como a alma para o corpo;
- como o punho fechado para a mão espalmada.
A teologia é a fé mesma que se articula, a partir de dentro, em discurso racional. Este é o desdobramento teórico da fé. É seu desabrochamento intelectual. Teologia é fides in statu scientiae ( a fé em estado de ciência). É o pathos (amor paixão) que toma a forma do logos, a experiência que se faz razão. É a sabedoria no modo de saber.
A teologia não acrescenta materialmente um pingo de luz à fé. Desenvolve apenas seu conteúdo material. Desdobra suas virtualidades latentes. É a ratio estendendo o intellectus: a razão explanando a intuição. Portanto, a fé é como a enteléquia da teologia, isto é, sua forma dinâmica interna. É seu conatus, sua alma viva e inquieta. Eis o que diz Clemente de Alexandria (ca. 150), diretor do primeiro instituto de teologia, o Didaskalion:
“A fé é, por assim dizer, um conhecimento elementar e concentrado das coisas necessárias. A gnose (=conhecimento teológico), por sua vez, é a demonstração firme e segura do que se recebe na fé. Ela se edifica sobre a fé, por meio do ensinamento do Senhor, e conduz a uma indefectível posse intelectual”
Como podemos ver, a teologia como discurso se distingue do discurso da fé, tal qual a confissão. Dá-se entre as duas certa ruptura – uma ruptura no nível da forma, especificamente da linguagem. A teologia é mutável, diversificada, enquanto a fé tem um caráter absoluto, definitivo.
Isso tudo é verdade no plano da forma. Contudo, no do conteúdo, há profunda continuidade. A substância viva da teologia é a própria fé. A teologia não diz outra coisa que a fé, só o diz de outro modo. Non novum sed nove: não diz coisas novas, mas diz as mesmas coisas perenes da fé, de modo diferente.
Por isso tinha razão Tertuliano ao dizer:
“Nós não temos curiosidade além de Jesus Cristo. Nem temos necessidade de investigar além do Evangelho. Quando cremos, não sentimos falta de outras crenças, pois a primeira coisa que cremos é que não há outra coisa para crer”
S. João da Cruz afirma o mesmo em outros termos:
“Ao dar-nos, como nos deu, o seu Filho, que é a sua única Palavra – e não há outra -, (Deus) disse-nos tudo de uma vez nessa Palavra e nada mias tem a dizer.”
A fé im-plica dentro de si a teologia; e a teologia ex-plica, como que para fora, a fé recolhida em si mesma. Na fé encontramos uma teologia implícita e na teologia, uma fé explícita. As razões teológicas se relacionam com a fé não ao modo da “substituição” ou da “diminuição”, mas ao modo da “adição”
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BOM DIA
A PAZ DE CRISTO E AMOR DE MARIA.
VINDE E VEDE